A Essência do Zen Budismo — D. T. Suzuki
O Zen budismo é o resultado do desenvolvimento no oriente, de um dos ramos do budismo Indiano, o Mahayana. O Zen Primeiramente surgiu na China, e depois se capilarizou em outros países, como o Japão, onde exerceu grande influência na espiritualidade, na arte e na moral. Atualmente, pode-se dizer que é no Japão onde essa tradição está mais viva.
O Zen budismo não é filosofia e nem religião no sentido ocidental do termo. Além disso, ele não é mindfulness e nenhum tipo de meditação New Age para deixar as pessoas mais tranquilas. Também não é uma forma de monismo, nem panteísmo e nem niilismo. O Zen escapa a todo tipo de classificação, que nada mais são, do que cristalizações do pensamento, exatamente aquilo que ele pretende evitar.
O Zen Budismo também é conhecido, como a doutrina do coração de Buddha. Seu propósito é a transmissão da essência do Budismo, de forma simples, direta e “prática”. Essa essência é justamente o Zen, o que para D. T. Suzuki é o elemento místico presente em todas as religiões. Por exemplo no taoísmo chinês a noção do Tao, mais especificamente a do Tao sem nome, pode ser equiparada, em certo sentido, a do Zen.
Bom, se o Zen Budismo é Prático e sem enrolação, qual é seu objetivo? O que ele proporciona? De maneira geral, seu objetivo derradeiro é a experiência ou realização do Zen. Essa realização é Chamada de Satori. Mas o que é o Satori! É, em poucas palavras, a realização da nossa verdadeira natureza.
O satori chega como um raio que rompe a casca dura da nossa mente concreta, que normalmente está aprisionada na experiência da dualidade: de sujeito e objeto, eu e você, verdade e falsidade, prazer e dor, etc. O Satori é na tradição Hindu a transcendência do mundo de nomes e formas, que é a condição cotidiana do homem não iluminado. É a saída da caverna do Platão.
O Satori ilumina e é, em geral, um momento de virada na vida de alguém. Espiritualmente representa um novo nascimento e intelectualmente a aquisição de um novo ponto de vista, que não é rigorosamente novo, mas sim a revelação de algo que sempre esteve conosco, desde o início, mas que estava bloqueado pela nossa ignorância que, como uma densa camada de nuvens, impedia a percepção do sol do nosso ser.
Liberto das trevas do dualismo, que é chamado de ilusão pelos Budistas e Maya pelos Hindus, aquele que alcançou o satori é um novo homem. O satori abre as portas para o universo do zen, até então não percebido na confusão de uma mente dualista presa a nomes e formas.
Enfim, para entender o que realmente é o Satori, é necessário experienciá-lo, pois ele é incomunicável por palavras. É uma experiência que transcende o intelecto. Racionalidade, lógica, dialética, nada disso pode compreender o Satori.
Como então, alcançar o Satori?
De acordo com o Zen Budismo, duas disciplinas devem ser praticadas sistematicamente.
ZAZEN
A primeira é o Zazen ( ou Dhyana em Sânscrito), que é basicamente sentar de pernas cruzadas em quietude e buscar um estado de contemplação profunda. Uma das formas de fazer isso, é suspender todo julgamento crítico e deixar os pensamentos passarem, sem se envolver com elas. Como disse (Shunryū Suzuki) No zazen, deixe, tanto a porta da frente, como a dos fundos aberta. Deixe os pensamentos irem e virem. Só não sirva chá para eles!
KOANS
E a segunda disciplina é a dos KOANS, ou seja, anedotas, diálogos, declarações e perguntas, apresentadas por um mestre ou instrutor, com o objetivo de abrir a mente do discípulo para o satori, ou pelo menos para um insight do Zen.
Por exemplo: Batendo duas mãos uma na outra temos um som. Qual é o som de uma única mão?
Os Koans são, aparentemente, paradoxais, enigmáticos e insólitos, não por mero capricho, mas sim pela necessidade de levar a mente do estudante a um beco sem saída, para a borda de um precipício mental, onde sua solução, não seja outra, senão saltar. Ou seja, a solução não é intelectual, mas sim uma experiência. Uma experiência de abertura ao zen, que é, precisamente, o Satori ou seu vislumbre.
O koan pronunciado pelo mestre não é uma charada a ser resolvida pelo pensamento discursivo, como aquelas em exercícios de lógica. Assim como o dedo que aponta para a lua, não deve ser confundido com a própria lua, o koan, Como expressão verbal da experiência Zen, não deve ser confundido com essa experiência, que está além da linguagem e do intelecto. Em síntese, O Koan é um “apontar”, é um “empurrãozinho” em direção a experiência do satori.
Enfim, a originalidade do Zen Budismo está, precisamente, na prática do Zazen, em conjunto com os Koans. O zazen prepara a mente, colocando esta em uma condição favorável para que o Koan funcione como espécie de catalisador para a iluminação do satori.
Como disse Suzuki: a vida do Zen começa com a “abertura do satori”.
Por: João Gabriel Simões.
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