A Verdadeira Paz de Espírito!
A inquietação e o desassossego fazem parte da vida; eles vêm e vão, pois na vida tudo está em constante movimento. Alegrias e tristezas, sucessos e fracassos, prazeres e dores — tudo isso é passageiro.
Em geral, não reclamamos quando a noite sucede o dia, nem quando o vento sul é substituído pelo norte. E não nos preocupamos com isso, pois sabemos que essas mudanças fazem parte da natureza.
Agora, quando um estado mental de alegria é substituído por um de tristeza ou quando a nossa paz é abalada por alguma coisa qualquer, muitas vezes, tendemos não só achar que tem algo de errado conosco, mas também a nos sentir culpados por isso. “Está todo mundo feliz e aproveitando a vida, menos eu que estou nesse pântano de dores, o qual não deveria estar”.
Nosso erro é achar que só deveríamos ter dias radiantes de sol na nossa vida mental e nada além disso. Não nos damos conta que se fixar na ideia de experimentar apenas prazer, alegria e paz o tempo todo é negar a própria natureza dos fenômenos mentais, cuja “verdade” é a transitoriedade. “Às vezes você estará feliz e outras tristes, e não há nada de errado nisso”.
O problema surge quando, por exemplo, envolvemos uma tristeza natural e passageira, que normalmente duraria pouco tempo, com camadas e mais camadas de sofrimento constituídas por reclamações, autorrecriminações e teimosia. Como ensina um ditado Zen: “Se alguém tentar eliminar uma onda com outra onda, atrairá inúmeras ondas”.
Dessa forma, transformamos uma mera tristeza fugaz em um monstro interior que irá residir por muito mais tempo em nossa mente. E fazemos isso pelo fato da realidade não se curvar às demandas de nosso ego, por não querermos nos adaptar ao devir da vida, que tão facilmente reconhecemos na natureza exterior, mas dificilmente na que jaz dentro de nós.
Estamos adaptados a realidade quando sabemos que ir a praia ao meio dia sem protetor solar é pedir para se queimar; comer só doce e alimentos processados é pedir para adoecer; e se iludir com a ideia de que só devemos ter pensamentos e sentimentos “positivos” é pedir para se decepcionar, constantemente.
Compreender a transitoriedade de nossos estados mentais provavelmente não garantirá um estado de felicidade e contentamento perene, até porque ele não existe (pelo menos aqui na realidade sensível), mas certamente nos libertará da carga de sofrimentos desnecessários, que tão “habilmente” adicionamos às nossas experiências desagradáveis. Isso nos conectará com o “fluir” natural de nossos fenômenos mentais, promovendo maior aceitação e flexibilidade psicológica — podemos chamar isso de paz de espírito!
Em síntese, paz de espírito é compreender que dor e prazer, alegria e tristeza, conforto e desconforto fazem parte da vida humana. A alma humana experimenta diferentes “climas”, da mesma forma que o céu da sua cidade experimenta diferentes condições climáticas. Logo, não faz sentido lutar contra isso, mas sim se adequar a esse fluxo e saber usar tanto os afetos “positivos” como os “negativos” para expressar o nosso Ser e construir uma vida mais significativa.
Por: João Gabriel Simões (Psicólogo)
Instagram: @joao_gabriel_simoes