Você Realmente Escuta o Outro?
Pare por um momento e busque lembrar da última vez que você teve uma longa conversa com outra pessoa. Você, provavelmente, notará que escutou-a por meio de vários filtros; o filtro do que você já sabia sobre o que vocês conversaram, o filtro do que você ouviu dizer, o filtro do que você já leu, o filtro daquilo que te agrada e desagrada, o filtro das suas experiências passadas etc. E esses filtros, com efeito, dificultaram a sua escuta, em maior ou menor escala.
Ou seja, você escutou-a através de suas noções prévias, por meio de seus preconceitos. E tudo isso reduziu o seu poder de escuta — e não há nada de errado em admitir isso. Realmente, temos dificuldade de escutar plenamente o outro. E o que significa escutar completamente o outro? Significa: não julgar, não rotular, não classificar o outro dentro de um quadro de referências.
É estar completamente atento ao outro, sem se distrair com os rótulos que a nossa mente julgadora, movida por aquilo que ela gosta e não gosta, anseia por fixar no outro. Quando minha mente diz: “Ela é bolsominion ou ele é um socialista caviar”, a escuta vai para o saco, a integralidade das várias dimensões do ser humano que está diante de mim é reduzida a um conjunto de rótulos. Daí para frente minha escuta estará comprometida. E não é assim que agimos muitas vezes?
Enfim, é sempre bom lembrar que a capacidade de escuta avança à medida que a tendência de julgar e rotular recua. E, uma vez que a boa escuta é o caminho da compreensão e a compreensão, por sua vez, predispõe a empatia, dificilmente terá uma boa qualidade empática aquele que se limita a escutar os outros, através de seus “rótulos preferidos”. Não dá para ter uma boa escuta e muito menos empatia, com aqueles que não são “a nossa imagem e semelhança”, sem abertura para o mistério singular que é cada ser humano!
Por: João Gabriel Simões
Instagram: @psicologo.joaosimoes